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Entrevista com o prof. Gary Kleck


O professor Gary Kleck, Ph.D. da Escola de Criminologia e Justiça Criminal da Universidade Estadual da Flórida (EUA), tornou-se mundialmente conhecido após a publicação de seu estudo: Point Blank: Guns and Violence in America (A Queima-Roupa: Armas e Violência nos EUA). Este trabalho recebeu o prêmio Hindelang de 1993, outorgado pela American Society of Criminology, como sendo "o livro que nos últimos dois anos maior contribuição deu ao estudo da criminologia". Com este trabalho, o professor Kleck, mantém a tradição de sempre produzir trabalhos que causam alto impacto nos meios acadêmicos e nas cortes americanas.

Esta entrevista foi concedida ao repórter J. Neil Schulman do jornal Orange County Register em 19/09/93.

P - Dr. Kleck, conte-me de uma forma genérica, o que você descobriu em sua última pesquisa e que ainda não era conhecido.

R - Bem, a pesquisa gerou dados bastante consistentes com outros resultantes de uma dúzia de pesquisas anteriores. Estes dados indicam que o uso defensivo das armas de fogo é bastante comum e, provavelmente, mais comum que o uso das mesmas. Esta pesquisa foi além das anteriores no sentido de que revelou quanto e de que maneira as pessoas usavam suas armas. Nós perguntamos sobre os incidentes dos últimos cinco anos e também o que aconteceu apenas no último ano, acreditando que as pessoas se lembrariam com mais detalhes do que aconteceu no ano passado. Os detalhes são mais confiáveis quando relativos a eventos ocorridos há menos de um ano atrás.

P - No último ano, quantas pessoas que responderam ao questionário disseram que haviam empregado uma arma de fogo em defesa própria num confronto com alguém imbuído de ímpeto criminoso?

R - Bem, em termos percentuais foram 1,33% dos consultados. Se extrapolarmos este percentual para a população em geral, obteremos o número de 2,4 milhões de usos defensivos de algum tipo de arma de fogo - não apenas armas de mão - no ano passado, que vai aproximadamente da primavera de 92 a primavera de 93.

P - E se enfocarmos apenas as armas curtas?

R - A percentagem seria 1,03%, o que daria 1,9 milhões de casos para toda população americana.

P - E quantas pessoas foram consultadas no total?

R - Tivemos um total de 4978 entrevistas completas, isto é, entrevistas em que tivemos uma resposta à questão principal que era se teria havido ou não o uso defensivo de uma arma de fogo.

P - Discrimine, se possível, esses usos defensivos.

R - Cerca de 8% dos empregos defensivos envolviam algum crime sexual, uma violência com fins sexuais; cerca de 29% envolviam alguma outra agressão que não sexual; 33% envolviam um roubo ou arrombamento de residência; 22% envolviam outros tipos de roubo e 16% envolviam invasão de propriedade. Note que alguns incidentes envolvem mais de um tipo de crime.

P - Você tem detalhado quantos incidentes ocorreram dentro da propriedade do entrevistado ou fora dela, implicando em que esta pessoa estaria portando a arma consigo ou em seu carro?

R - Sim. Perguntamos a todos onde o incidente ocorreu. Setenta e dois porcento dos casos ocorreram em algum lugar dentro, ou próximo, à residência do entrevistado, isto é: em um local onde a arma não precisava estar sendo portada, no sentido legal do termo. Além disso, cerca de 4% dos casos aconteceram na casa de algum amigo, onde não necessariamente seria necessário o porte. Além desses casos, cerca de 4% ocorreram com veículos em estacionamentos. Assim, alguns desses casos podem estar envolvidos em situações onde o porte é permitido. Lembro que em alguns estados (dos EUA) não é necessário licença para portar uma arma dentro do automóvel. Por isso eu diria que o número de incidentes onde seria necessário o porte de arma, no sentido legal da expressão, é de menos de um quarto dos casos.

P - Bem, então isto significa que aproximadamente meio milhão de vezes por ano alguém portando uma arma longe de casa a emprega para se defender?

R - Isto é o que podemos concluir.

P - Para quantas pessoas bastou mostrar a arma, para quantas foi necessário disparar um tiro de advertência e quantas tiveram que, efetivamente, atirar no atacante?

R - Você deve atentar que é bem possível que essas pessoas tenham tido que tomar mais de uma dessas atitudes, num único incidente. Cinquenta e quatro porcento dos empregos defensivos de armas, envolveu alguém referindo-se verbalmente à arma. Em 47% dos casos a arma foi apontada ao criminoso; em 22% a arma foi disparada e em 14% houve um disparo contra alguém; quero dizer que a arma foi intencionalmente disparada contra o agressor - não um mero tiro de advertência. Se o agressor foi ou não atingido é outro assunto. Em 8% dos casos o agressor foi ferido ou mesmo morto.

P - Você tem dados sobre o tipo de armamento usado pelos agressores?

R - Sim, nós também perguntamos se o agressor estava armado. Em 47% dos casos o criminoso estava armado; portava uma arma curta em 13,6% de todos os casos e algum outro tipo de arma de fogo em 4,5% deles.

P - Em outras palavras, em cerca de um sexto dos casos o atacante portava uma arma de fogo.

R - Correto!

P - E quanto ao restante?

R - Armados com facas foram 18,1%; 2% com algum outro objeto cortante; 10,1% com armas de impacto e 6% com algum outro tipo de arma. Lembre-se, ao somar essas percenta-gens, que muitas vezes o agressor portava mais de um tipo de arma.

P - Então, em cinco sextos dos casos, alguém portando uma arma de fogo teve de se defender contra outra pessoa ou desarmada ou portando uma arma inferior?

R - Certo. Em cinco entre seis casos foi isso que ocorreu.

P - Há alguma outra conclusão de sua pesquisa que o tenha surpreendido?

R - A única coisa surpreendente foi o grande número de vezes em que pessoas, de fato, feriram alguém no incidente. As pesquisas anteriores não apresentavam um número significativo de casos para que pudéssemos detalhar bem. Havia, porém, indícios de que em apenas um pequeno número de vezes ocorriam ferimentos. Para mim foi uma surpresa que um tão grande número de pessoas tenha realmente ferido alguém com uma arma de fogo.

Traduzido da revista American Rifleman de Fev. de 94 por autorização da National Rifle Association dos EUA.
O livro do Prof. Kleck foi publicado por: Aldine de Gruyter Publishing Co. - 200 Saw Mill River Road, Hawthorne, N.Y. 10532 EUA, e custa US$ 59.95.

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