As Grandes Falácias Sobre Armas.

Nesta seção do ARMARIA vamos analisar as grandes falácias sobre as quais se baseiam 99% das reportagens sobre armas publicadas na imprensa brasileira. Na ausência de trabalhos locais sobre o tema (o que existe é muito fraco), nossos intrépidos jornalistas reproduzem o que é publicado lá fora sem se preocupar com as objeções levantadas a posteriori sobre esses artigos. Ao oferecer ao público brasileiro uma outra visão sobre o assunto, esperamos estar contribuindo para elevar o nível do debate sobre armas no Brasil.
Este é o primeiro capítulo. Em breve outros se seguirão.

Os Editores.

Capítulo 1

Uma arma em casa coloca em risco toda a família. É muito maior a chance dela matar ou ferir um membro da família ou conhecido que um bandido invasor.

A idéia de que um pai de família, ao levar uma arma para casa, está colocando em risco a vida de sua mulher e filhos só pode ser obra de mentes extremamente preconceituosas. Entretanto, é o que vemos amiúde nos jornais. Vejamos como surgiu esse mito.

Tudo começou quando, nos EUA, um médico de um hospital público de Cleveland, estado de Ohio, fez uma pesquisa e descobriu, espantado, que num período de 16 anos em seu hospital, havia o registro de 148 mortes de parentes ou conhecidos contra apenas 23 mortes de intrusos efetuadas por pais de família armados. (1)

Em 1993, o Dr. Arthur Kellerman da Emory University, apresentou um estudo concluindo que, numa casa com uma arma, a chance de haver um homicídio era maior que nas outras. Outros estudos similares, produzidos por médicos e/ou suas associações, com proporções ainda mais chocantes, passaram a aparecer por toda parte até que criminologistas e alguns médicos familiarizados com armas passaram a analisar essas "pesquisas" com senso crítico e apontar seus erros.

Abaixo listamos os erros e vícios de metodologia encontrados nesses trabalhos:

A - suicídios foram contados como acidentes;

B - todos os acidentes foram contados, tenham ou não ocorrido em casa;

C - invasores mal intencionados, desde que conhecidos por um membro da família, foram considerados como amigos;

D - assassinatos justificados (defesa própria) ocorridos no quintal ou jardim não foram considerados "em casa";

E - o uso defensivo da arma, sem a ocorrência de morte ou ferimento, não foi computado;

F - não foi levado em consideração o histórico de violência entre os membros da família antes de haver o homicídio.

Este último item é muito importante. Uma família com longa tradição de violência, com membros drogados e/ou alcoólatras, não pode ser considerada uma família típica de nossa sociedade. Nessas famílias, o assassinato é apenas o último estágio de uma escalada de violência acompanhada, muitas vezes, pela vizinhança e pela delegacia do bairro. Um estudo conduzido pela The Police Foundation, mostrou que 90% de todos os homicídios entre familiares (não importa com que tipo de arma), foi precedido por algum outro incidente violento suficientemente sério para que a polícia fosse chamada e, em 50% dos casos, isso ocorreu cinco ou mais vezes.

O professor de criminologia da Universidade da Florida, Gary Kleck, nos conta que: ...pouquíssimos homicídios são cometidos por pessoas sem um histórico pregresso de violência. A imagem popular de um cidadão exemplar que fica fora de si e mata um membro da família é um mito criado e cultivado por jornalistas que ficam fascinados com o aparente contraste entre um ato de suprema violência e um ambiente pacífico.

Da mesma forma, se um ladrão é conhecido por um membro da família, isso não o trona um amigo ou ainda "bonzinho". No caso de estupros, está provado que, na maioria dos casos, o estuprador é um conhecido da vítima - o que não torna o ato menos violento. Um suicídio não pode, também, ser considerado um acidente, por mais que lamentemos a morte do ente querido. Será que se não houvesse arma em casa o suicida desistiria de seu intento?

O estudo do Dr. Arthur Kellerman (2) foi todo montado em cima de um erro de lógica (falácia) chamado de "afirmando o conseqüente". Ele simplesmente procurou pela presença de armas em famílias onde ocorrera um homicídio e daí concluiu que a presença da arma foi um fator de estímulo ao crime. Não foi levado em conta os milhões de lares onde a presença de uma arma não induziu crime algum. O criminologista Gary Kleck ironizou a pesquisa do Dr. Kellerman com a seguinte consideração: - como um diabético tem muito mais chance de ter insulina em casa, podemos, então, afirmar que ter insulina em casa é um fator de risco para o diabetes.

O professor de direito Daniel D. Polsky afirmou em seu artigo "The False Promise of Gun Control" (3): Podemos afirmar que a falácia lógica afirmando o conseqüente é a causa da maior parte das associações entre armas e homicídios. Os dados do Dr. Kellerman simplesmente não nos permitem tirar conclusão nenhuma.

Uma pesquisa financiada pelo ministério da justiça dos EUA (Department of Justice) durante o governo Carter e conduzida pelos professores James Wright e Peter Rossi da Universidade do Massachusetts, concluiu que o cidadão armado talvez seja o maior fator inibidor da violência nos EUA. Wright e Rossi entrevistaram 1800 detentos cumprindo pena em diversas prisões dos EUA e observaram que 74% dos ladrões entrevistados afirmaram que evitavam entrar em casas habitadas por medo de levar um tiro.

Um estudo comparativo dos roubos em residências nos EUA, no Canadá e na Inglaterra, revela que, na Inglaterra e Canadá, cerca de 50% das invasões de residências acontecem com os moradores em seu interior, com toda a violência gratuita (inclusive sexual) que costuma acontecer nesses casos. Já nos EUA, onde a quantidade de armas nos lares é muito maior, apenas 13% dos roubos ocorrem com os moradores dentro das casas.(4) Isto comprova o estudo Wright-Rossi e mostra que os criminosos reagem logicamente à ameaças contra sua integridade. Mostra, também, que numa região com muitos lares armados as casas desarmadas "pegam carona" na segurança criada pelas demais.

Uma pesquisa realizada em hospitais só poderá nos revelar os casos que resultaram em ferimentos e mortes. Entretanto, quantos de nós não conhecem histórias onde um tiro para o alto (*) foi suficiente para afugentar um ladrão invasor? Os estudos do professor Kleck (5) indicam que, em 76% dos usos defensivos com arma de fogo, não chega a ser disparado nenhum tiro.

É interessante notarmos que, dessas pesquisas realizadas por médicos, somente as com conclusões anti-armas recebem destaque na mídia. Para aqueles interessados em conhecer uma opinião diferente, recomendamos o trabalho "Guns and Public Health: Epidemic of Violence or Pandemic Propaganda?" Por Don B. Kates et al., (Tennessee Law Review nº 3, Spring 1995).

Quem quiser conhecer outras associações de médicos que pensam da mesma forma, basta escrever para:

- Doctors for Integrity in Research and Public Policy - Dr. Edgar A. Suter, Chair, 5201 Norris Canyon Road, suite 140, San Ramone, CA - 94583.

- Doctors for Responsible Gun Ownership - A Project of the Claremont Institute, 250 West First Street, Suite 530, Claremont, CA - 91711.

- Medical Association of Georgia - 938 Peachtree Street, Atlanta, GA - 30309

Referências:

(1) Rushforth et al., "Accidental Firearms Fatalities in a Metropolitan County" - American Journal of Epidemiology 499 - (1975).

(2) Kellerman et al., "Gun Ownership as a Risk Factor for Homicide in the Home" - New England Journal of Medicine - 467 (1993).

(3) The Atlantic Monthly, março de 1994.

(4) David Kopel, "The Samurai, The Mountie and the Cowboy" 155 - Prometheus Books (1992)

(5) Gary Kleck e Marc Gertz, "Armed Resistance to Crime: The Prevalence and Nature of Self-Defense with a Gun" - Journal of Criminal Law and Criminology (Fall 1995)

(*) Deveria ser um tiro para o chão, por medida de segurança.


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