O CORREIO DO CIDADÃO Nº 090

A INGLATERRA E SEU DEDO NO GATILHO

divulgado em 17/OUT/99

(NT - titulo intraduzível: Trigger-happy Britain's itchy fingers)

por John Gibb (fonte: This is London - 08/out/99)

Este ano a Grã-Bretanha assistiu uma epidemia de crimes com armas de fogo em Londres. Oficialmente, 15 pessoas morreram e trinta ficaram feridas em tiroteios. Extra-oficialmente, a polícia estima o número de feridos em 60 (dos quais ao menos 26 foram na região noroeste de Londres). Mas as áreas da cidade onde os criminosos usam armas regularmente vão de Croydon a Hampstead e de Southall até Hackney.

Violência não é algo incomum em cidades do porte de Londres, mas violência envolvendo armas de fogo, sim. Podemos olhar horrorizados para os efeitos das leis lenientes nos EUA, mas será que o mesmo está ocorrendo aqui? Porque os crimes com armas estão aumentando? E, mais importante, de onde vem todas essas armas?

A Associação Britânica para Tiro e Conservação (ABTC) apregoa que o endurecimento das leis e o banimento das armas curtas após o massacre de Dumblane em nada contribuiu para melhorar a situação. A própria polícia admite que existem cerca de 400 mil armas curtas ilegais no Reino Unido - informalmente, porém, eles acreditam que este número chega a um milhão.

Incidentes com alta exposição na mídia - tal como o insolúvel assassinato de Jill Dando em plena luz do dia; o tiroteio que matou Tim Westwood em Kennington; a prisão de Angelo Panayiotou, o proprietário da boate Brown's em Covent Garden, por uso ilegal de armas - mantiveram a questão das armas em evidência. O fato do Comitê de Assuntos Internos estar planejando uma revisão na legislação de armas de fogo em futuro próximo, sugere que a violenta reação política ao incidente de Dumblane pode não ser a solução.

Bill Harriman, membro do Comitê Consultivo em Armas de Fogo e porta voz da ABTC, afirma que a legislação focou o cidadão honesto que participa de clubes de tiro, quando deveria "ser direcionada a armas possuídas ilegalmente". (...)

(...) Muito embora o Ministério do Interior seja enfático afirmando que só a polícia ou as forças armadas podem portar armas, o medo de seqüestro, assassinato político, roubo à mão armada e invasão de privacidade, tem levado os ricos e famosos muitas vezes a despender considerável esforço em sua segurança - até mesmo empregando exércitos privados para a defesa própria. A polícia, entretanto, recusa-se a confirmar se seguranças privados andam, em certas circunstâncias, armados.

Muito embora a posse de armas curtas tenha sido proibida, elas ainda são as armas preferidas dos criminosos e foram usadas em 1854 dos 3029 roubos à mão armada na Inglaterra e País de Gales em 1997. Harriman acredita que a atitude dos criminosos em relação ao uso de armas de fogo está deteriorando. "Existem claros indícios de que as pessoas que possuem armas ilegais, mais do que nunca, estão prontas para usá-las". "Entre essa gente, as armas são usadas para resolver disputas pueris. (...) A legislação deveria ser dirigida para reprimir essa atitude e tirar as armas das mãos dos criminosos. Hoje em dia as armas são, muitas vezes, usadas como um acessório de moda ou uma demonstração de poder e virilidade".

Mas para o cidadão comum não é fácil adquirir uma arma curta em Londres. (...)

Discuti a questão das armas ilegais com Reg, um gangster da velha guarda da região norte de Londres. Encontrei-me com ele no “pub” Westbourne em Notting Hill. “De vez em quando eu complemento minha aposentadoria vendendo armas a quem necessita” disse ele. Olhando em volta com cautela, ele prosseguiu: Suprimento não é problema e os preços para peças sofisticadas nunca estiveram tão altos. A garotada da zona sul e noroeste de Londres paga até £2500 por uma submetralhadora como a Mac-10. É uma arma perigosa porque espalha balas como um aerossol e dispara 600 tiros por minuto”.

Tem havido centenas de crimes com esse tipo de arma e, entre as gangues de jovens traficantes de crack, é um símbolo de poder que impõe respeito. “É tudo uma questão de status nas ruas” disse ele com tristeza. “Nos meus tempos, a gente usava o berro e depois o jogava da ponte de Chelsea a caminho de casa. As espingardas eram muito baratas. Cortavam-se os canos e tínhamos uma arma poderosíssima – a preço de banana. Hoje é diferente. Armas como a Uzi e a Mac apareceram no início dos anos 90 e ainda há uma grande demanda por elas. Eu posso te arranjar uma Browning 9mm e uma caixa de munição por £250, ou algo um pouco mais velho por £150. Há uma demanda constante de armas por pessoas comuns como você” diz ele, torcendo para eu tornar-me um cliente. “Hoje em dia as pessoas têm medo de serem agredidas por algum punk doido e querem um pouco de segurança. Porque não ter uma pistola no porta luvas ou na mesa de cabeceira? Faz sentido. Não vais querer uma?”. Pedi desculpas e saí.

Existem dúzias de maneiras de trazer armas para Londres e muitas fontes no exterior onde podem ser adquiridas. Armas curtas são baratas e facilmente encontráveis nos países da velha União Soviética, tal como Checoslováquia e Bulgária, onde as leis são mais liberais.(...)

De fato, os serviços de segurança britânicos revelaram que armas adquiridas na Flórida (EUA) estavam sendo postadas para células do IRA em Manchester e na zona norte de Londres. Ninguém sabe quantos desses pacotes foram entregues sem serem detectados. Se alguém quer contrabandeá-las no atacado, tudo que é necessário fazer é despachá-las pelo Atlântico num barco particular, afundar o pacote no mar ao largo da costa de Kent com tanques de flutuação acionados por controle remoto e depois recolhê-lo com ajuda de um GPS. De acordo com Reg, isso já foi feito e a demanda permanece. (...)

Se você for surpreendido com uma arma banida pela lei de 1997 pode pegar até dez anos de prisão. O uso de arma de fogo em crimes sérios ou para resistir a prisão é punido com prisão perpétua. Apesar disso, apenas em 1997, aconteceram 11.436 casos registrados de crimes envolvendo armas de fogo. Será que os garotos responsáveis pela proliferação de assassinatos em Londres este ano não ligam para a lei?

“Na verdade, não”, diz Bill Harriman da ABTC, “O mercado de armas ilegais é diversificado e é movido por interesses diversos. Algumas armas de mão são apenas brinquedos. Os jovens amam possuí-las e não têm nenhum escrúpulo em usá-las”. Reg concorda. Ele acredita que, para a nova geração de criminosos traficantes de drogas, atirar não significa nada. “Sob efeito do crack você acha que é invulnerável. A última coisa em que você vai se preocupar é se o braço da lei vai te apanhar”.

Após o massacre de Dumblane, muitos clubes de tiro foram fechados. “Talvez se os 95 milhões de libras pagos como indenização aos legítimos proprietários de armas tivessem sido usados contra o banditismo, alguma coisa mais fundamental teria sido alcançada para acabar com essa cultura de armas” disse Bill Harriman.

Parece óbvio que a legislação não teve nenhum efeito em reduzir uso de armas entre os criminosos. O que será necessário para despertar as mentes dos políticos? Uma nova guerra de gangues? Se a morte de Jill Dando fizer os legisladores pensar seriamente no problema das armas, então sua morte não terá sido em vão.

COMENTÁRIO: Os anti-armas tupiniquins apresentam a Inglaterra como o exemplo a ser seguido. Por este artigo vemos que a situação só fez piorar desde a proibição das armas curtas e que já existe um grupo governamental estudando alterações na lei.

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