O Choro de Obama.

Sem surpreender a ninguém, no dia 6 de janeiro de 2016 o jornal O GLOBO estampou em sua primeira página o presidente, Barack Obama chorando por mais restrições à venda de armas nos EUA. Não satisfeito, nas páginas internas, além da reportagem sobre o discurso, o jornal externou sua tradicional postura desarmamentista através do editorial intitulado "Obama promove avanço no controle de armas", listando sem nenhum cuidado de comprovação as inúmeras mentiras, meias verdades e omissões do discurso do presidente.

Lágrimas de crocodilo (ou será de aligator?)

Bem, já que o jornal não se preocupou em verificar os fatos citados por Obama, o ARMARIA fez o trabalho que deveria ser feito por qualquer jornalista que se preze e foi atrás da comprovação dos fatos citados por ele.

Abaixo listamos o texto do editorial do GLOBO (em itálico) e as mentiras, meias verdades e omissões que descobrimos a respeito.

1) O decreto (do Obama) impõe a exigência de atestado de bons antecedentes e sanidade para a compra de armamento. - Mentira: essas exigências já existem há muito tempo. Na realidade, Obama quer impor, na marra, um registro nacional de armas (tal como no Brasil) o que o congresso americano não aceita. E não aceita por motivos óbvios: é uma burocracia de execução cara, sem nenhuma utilidade nas investigações criminais e, além de tudo, permite o confisco por parte do Estado.

2) O decreto exige que os vendedores de armas sejam licenciados. - Mentira: Todos os vendedores de armas já são obrigatoriamente registrados no BATF (Bureau of Alcohol Tobacco and Firearms) e Obama quer passar por cima das leis estaduais (ver item 8, abaixo). Por este motivo o decreto é inconstitucional e deverá ser rejeitado no Congresso.

3) Obama acrescentou que... nos EUA... massacres e chacinas, ocorrem mais de uma vez por dia com mais de 450 mortes em 2015. Meia verdade: de fato os EUA tem tradição em massacres irracionais com armas de fogo, mas a frequência de mais de uma vez por dia e de 450 mortes em 2015 são dados falsos e exagerados. Esses números foram compilados por uma ONG anti-armas e incluem tiroteios com a polícia, guerra de gangues e outras ocorrências não qualificadas como chacina. Mas este não é um problema só americano. Na França, só em 2015, morreram ou se feriram mais pessoas em massacres com armas de fogo que nos EUA em todo governo Obama (532 contra 396) e a França tem 1/5 da população dos EUA, além de leis de controle de armas muito mais rigorosas. Omissão: o editorial não menciona que o ano em que ocorreram mais massacres nos EUA foi 1929 (em taxa per capita), muito antes do grande "boom" de compra de armas nos EUA que ocorreu a partir de 1970; Também não menciona que os massacres diminuíram em todos os estados que adotaram o porte de arma não-discricionário e que inúmeros massacres foram interrompidos pela ação de um civil armado.

4) Pode-se adquirir armas on-line nos EUA, sem exigência de documentação. Mentira: Após o assassinato do presidente Kennedy as vendas de armas pelo correio foram proibidas e permanecem assim até hoje (Gun Control Act de 1968). Qualquer vendedor deve checar os antecedentes do comprador antes de concluir a venda e esta arma (comprada pela internet ou não) deverá ser despachada a um revendedor autorizado pelo BATF na área de residência do comprador onde ele irá buscá-la.

5) ... uma brecha que facilita a ação de terroristas, como o recente caso de San Bernardino, em que 14 pessoas foram mortas e 17 feridas.Mentira: Um dos terroristas era cidadão americano e poderia adquirir armas como qualquer outro. Entretanto, talvez para não despertar suspeitas, as armas usadas no ataque foram compradas por um terceiro (um vizinho amigo) o que é ilegal.

6) Obama afirmou que a maioria da população deseja algum controle (na venda de armas). Meia verdade: A população concorda que algum controle é necessário mas, tal como no Brasil, para os anti-armas nenhum controle além da proibição total é suficiente. É por isso que os políticos anti-armas são rejeitados pela população. Uma pesquisa de opinião realizada pelo New York Times e pela CBS em dezembro passado mostrou que a maioria da população americana rejeita a agenda anti-armas de Obama e Hillary Clinton.

7) Obama afirmou: O lobby das armas pode ter o Congresso como refém, mas não a população americana.Mentira: O Congresso representa a opinião da população (muito melhor que aqui no Brasil). Existem deputados republicanos anti-armas e deputados democratas pró-armas - essa questão não é fechada nos dois partidos e essa polarização é exagerada. A maioria dos parlamentares é contra mais controle sobre armas.

8) ...estados que passaram tais medidas (de controle de armas) viram a incidência de mortes cair, como foi o caso de Connecticut, onde houve um recuo de 40% - Meia verdade: Obama estava citando uma pesquisa do American Journal of Public Health, uma organização anti-armas.
Aqui precisamos dar uma explicação ao leitor. A legislação americana de controle de armas dá muita liberdade aos estados. Os lojistas registrados no BATF exigem o exame prévio de antecedentes criminais previsto na lei federal para a venda de armas novas. Alguns estados não requerem este exame no caso de armas usadas. Em 1995, Connecticut passou a exigir este exame prévio no caso de armas de segunda mão e negociação entre particulares. Após a aprovação desta lei, a taxa de homicídios caiu de 3,13 para 1,38 por 100 mil habitantes (40% em 10 anos). Entretanto, Obama não mencionou que a taxa de homicídios em Connecticut vinha caindo mais rapidamente antes da aprovação da lei. Entre 1993 e 1995 o índice de homicídio caiu de 4,5 para 3,13, uma queda de 30% em apenas dois anos. Outro dado interessante é que a taxa de homicídios entre 1995 e 2006 caiu apenas 16% em Connecticut, enquanto nos EUA, em geral, caiu 27%.(2) Um dado curioso: esses 40% de recuo em 10 anos ocorreram apenas nas mortes com armas de fogo, enquanto o número total de homicídios permaneceu constante. Para os anti-armas este fato é um detalhe totalmente irrelevante.

9) No Missouri, por outro lado, onde houve um afrouxamento do controle (de armas) o número de mortes subiu 15%. Meia verdade: Ao contrário de Connecticut, o Missouri dispensou esta exigência para os revendedores estaduais. O Missouri é um dos estados com maior índice de homicídios dos EUA (6,6 mortes por 100 mil contra a média americana de 4,5 mortes por 100 mil habitantes) (2 e 4) e ao abolir a investigação prévia de antecedentes criminais este número aumentou. Ocorre que a taxa de homicídios de Missouri já vinha aumentando rapidamente, tento crescido 32% nos 5 anos anteriores a nova lei. Ou seja, na verdade a taxa de aumento dos homicídios diminuiu após a aprovação da lei (3). Curiosamente este aumento não ocorreu nos demais estados que têm a mesma política. Mais ainda, apenas 15 estados exigem a investigação prévia de antecedentes para os revendedores privados e em todos os outros estados do país as taxas de homicídios diminuíram.

Omissões:
Evidentemente o editorial não falaria que 43 estados americanos já adotaram o Porte de Arma Não-Discricionário (apenas 7 estados não permitem o porte) e que a criminalidade nos EUA vem diminuindo ano após ano desde que essa política foi adotada com sucesso no pioneiro estado da Flórida em 1988. Hoje, a taxa de homicídios nos EUA é menos da metade da taxa de 1980.

Que os sete estados que não permitem o porte de arma apresentam índices de criminalidade em média 11% acima dos demais.

Obama citou o Missouri, mas não disse que a taxa de homicídios desse estado ainda é um terço da taxa de Washington DC (capital dos EUA) onde a venda de armas é proibida (16,1 mortes por 100 mil habitantes)(1).

Como vemos, bastou uma rápida pesquisa na internet para questionarmos seriamente a fala de Obama e o editorial de O GLOBO. Evidentemente ao jornal não interessou fazer este "dever de casa" que seria obrigação de qualquer jornalista honesto.

Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 2016

Leonardo Arruda
Associação Brasileira Pela Legítima Defesa
www.pelalegitimadefesa.org.br

NOTAS:

(1) Crime Prevention Research Center - 08/jan/2016

(2) Wikipedia: List of U.S. states by homicide rate

(3) Fox News: Eleven false or misleading claims from the president's remarks this week - 07/jan/2016

(4) Wikipedia: Crime in the United States

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